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Objetiva o autoconhecimento como forma de lidar de modo criativo com nossos problemas.

São eventos capazes de ajudar-nos a encontrar caminhos para nossas vidas.

Médica em Carazinho- RS desde 1984, hoje exerce ginecologia e psicoterapia junguiana.


quarta-feira, 20 de agosto de 2014

O prazer que cresce de dentro!

Citando Rubem Alves...
(...) Quanto menos você comer, beber, comprar livros, for ao teatro, aos bailes, às boates, quanto menos você pensar, amar, teorizar, cantar, pintar, tanto mais você será capaz de economizar e tanto maior será o seu tesouro. Quanto menos você for, tanto mais você terá...

O capitalismo só conhece as coisas passíveis de serem transformadas em mercadorias, isto é, coisas que podem ser fabricadas, vendidas e compradas. Mas o prazer não é dado automaticamente pelo ter. Posso ter o mais fantástico aparelho de som e a maior coleção de CDs. O prazer dependerá de uma qualidade espiritual minha, do meu ser, uma sensibilidade para a música, que não pode ser comprada pelo dinheiro.
É preciso que os sentidos sejam educados!
O prazer e a alegria crescem de uma relação erótica com o objeto, isso se chama de amor.
E essa relação não pode ser comprada. Cresce de dentro.
 

O Bem e o Mal!

Este tema é intenso, abrangente e entusiasmante, 264ão uma pitada provinda de uma citação de Jung:



"Neste mundo" não há bem sem mal, sai sem noite, verão sem inverno.
Mas ao homem civilizado talvez falte a o inverno, porque pode muito bem proteger-se contra o frio; talvez falte a sujeira, porque pode lavar-se, talvez falte o pecado, porque pode, cautelosamente, isolar-se dos demais homens, evitando assim muitas ocasiões malignas. Pode parecer bom e puro a seus próprios olhos, porque não sofreu as necessidades do outro para lhe ensinar.
O homem da natureza, pelo contrário, possui uma totalidade que se poderia admirar. Mas, a rigor, nada existe nele que mereça admiração. O que nele se encontra é a eterna inconsciência, o pântano, a sujeira. CW. XI/1 §264

Então? Ser civilizado? Ser um homem da natureza? 

O inconsciente!

Quem é este senhor? Apenas algo que esqueci? Ficou subliminar? Algo metafisico? Místico? Cito pequena parte de um parágrafo de Jung com o intuito de iluminar a importância desta parte da psique que tentamos não ver, esquecer, e que felizmente não se deixa esquecer.

O inconsciente é a história não escrita do homem, a partir de épocas imemoriais.
A fórmula racional pode satisfazer aos tempos de hoje e ao passado imediato, mas não à experiência humana como um todo. [] Faltando este, a totalidade do homem não se acha representada na consciência. O homem se situa mais ou menos como um fragmento acidental, com uma consciência parcial e sugestionável, entregue as fantasias utópicas que usurpam o lugar vazio dos símbolos da totalidade. §280 OC.XI/2

Quem de nós deseja passar por esta curta experiência terrena como um fragmento acidental e usufruindo de uma consciência apenas parcial e sugestionável?

Psicologia Profunda - Análise Junguiana

Para que fazer análise?
Para que aprofundar?
Para que seguir o caminho do auto conhecimento?
Afinal, existem formas que servem como tentativas em evitar confrontos com os mal estares da vida.
Servir aos deuses do conforto na tentativa em comprar o bem estar.
Talvez para alguns as inquietações desacomodem mais, enquanto que para outros menos.
Vejo que para mim este desacomodar trouxe ainda mais questionamentos, porém, agora de uma forma diferente. São questionamentos curiosos em que a cada descoberta liberta-se um quantum de energia psíquica, que,  em outras palavras trazem a sensação de estar experimentando a vida com mais sabor. 



 

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

A Graça do Purgatório: Quando a operação alquímica - O calcinatio – cria sentido.



Compartilho a parte teórica do Position Paper apresentado neste 7º semestre da Formação pelo IJRS.

 
RESUMO

 

A partir da impressão de estar vivendo um Purgatório pessoal aludiu-se à operação alquímica de calcinatio. Sincronicamente ao próprio processo e momento da vida chegaram aos olhos “as tábuas” da alquimia sendo apresentadas de modo a significar a operação de queima e a possibilidade à purificação da alma.

 
I Introdução
 

                Em passeio sobre os artigos anteriores feitos para esta formação percebe-se que nos quatro primeiros aconteceu uma tentativa em trazer luz à relação profissional da médica com a psicologia Junguiana. O foco esteve a iluminar a saúde, doença e sintomas femininos.  Já num quinto artigo as cores começaram a ser pintadas. Mãe e filha em espaço criativo começam a se relacionar em maior profundidade. Um rapto do eu atribuído a Hermes, clamou por ser colocado no papel gerando o artigo que precedeu.

            Neste momento, aberta a receber e transcrever a partir do sentir cria-se a questão: Como se está? O que se apresenta no momento?  O que está sentindo? Que imagem rodea?

            O processo psíquico e o da escrita estiveram acompanhados por sonhos. Estiveram presentes ora dando pitadas, sensações, título ou frases prontas para todos os artigos. Sonhou-se muito. O inconsciente esteve guiando a noite mostrando caminhos.  Estes pediram para que se tocasse em dejetos e também apontaram a necessidade em colocar a mão nas entranhas de um peixe. Seria uma chave? 

            As sensações pessoais também foram se apresentando. Em um momento descrevia como se estivesse a caminhar em tábuas soltas sobre a água, seguido pela sensação em ser raptada do mundo e da segurança do ego.

            Eis que uma nova sensação se apresenta: Sinto-me suspensa e a queimar.

            Esta sensação suspensa e a queimar conduzirá este trabalho.

            Ampliando a sensação de estar suspensa, traz-se a imagem de presa, detida e o sinal que levava a descrição deste estado foi o da cruz. Nasce inicialmente a imagem de castigo.

            Batizada e orientada pelos princípios da religião católica desde a mais tenra idade havia a certeza do acolhimento e proteção por um anjo. Haviam modelos a serem seguidos. Havia punições aos pecadores. Inocentemente escolhiam-se na lista de pecados alguns para confessar ao confessor. O caminho era seguir o bem. Viver, cantar, passear e trabalhar olhando para os azuis, cor de rosa, gentis e ingênuos da vida. Uma postura atenta a evitar as punições, nominadas por ir ao purgatório ou até mesmo ao inferno.

            Mas, eis que a sensação que se apresentava agora era a de suspensa, detida, em castigo a queimar. Wilhelm (1997 p.42) diz: “O castigo nunca é um fim em si mesmo. Deve servir apenas ao restabelecimento da ordem”.

            O queimar leva ao fogo. O fogo remetia ao medo e também fascínio. Havia fogão a lenha, havia a lareira, havia o estalar da brasa, o iluminar da vela, a casa queimada, os incêndios da infância. Aprendeu-se a fazer fogueiras de São João.  Participou-se do cerimonial aos deuses que de forma lúdica era festejado com bombinhas, pipoca, pinhão, amigos e irmãos.

            O fogo esteve presente sempre pedindo respeito e reverência.

            O que indicava poder colocar a mão no fogo por alguém? Uma confiança absoluta? Ou será que existem fogos que não queimam? Queimaduras indolores? Existe um sentido? Significado?

            O momento é de suspenção. É de chamas.

 

 

II Desenvolvimento

           

                À medida que esta sensação, de suspensão e chamas circundava, o pensamento racional questionava: Onde está este fogo? Não há chamas. Não havia fogo visível, nem rubor, nem mesmo uma inflamação. 

            Mas algo purgava. Algo queimava. Sentia-se em um purgatório. A conotação ia além dos ensinamentos religiosos, percebia-se em processo, um processo imposto para a transformação.

            Há que se deixar queimar. Entregar-se ao processo, render-se ao “purgar”.

            Purgar? Limpar? Purificar? Ou ainda expiar? 

            Passeando pela etimologia da palavra pode-se olhar desde a um tubo intestinal que pede por um purgante até a um abscesso inflamado. Um ouvido que queima e arde como fogo e que também necessita da drenagem pelas lavas quentes que levam a matéria estranha para fora. Um fogo que purifica.

            Expelem-se também humores.

            Que são humores?

                Humores significando líquidos contidos em corpos organizados. Existem humores viciados. São umidades. São ânimos, disposições de ânimos, temperamentos. O corpo humano possui quatros humores que necessitam estar em equilíbrio: o sangue, fleuma, bile amarela e negra, humores estes que procedem do coração, sistema respiratório, fígado e baço, correspondendo ainda aos elementos ar, agua, fogo e terra.

            Quais os possíveis humores a serem purificados? Ou equilibrados?

            Há humor negro? Humor choroso? Humor ingênuo? Bom humor. De bem com a vida? Otimismo em excesso? Pessimismo demais?

            Acercam-se polaridades e muitas provindas de modelos religiosos da autora.  Há que se suprimirem os “maus humores”. Aconselhada a colocar “uma pedra de açúcar na boca” sempre que uma manifestação rude se apresentava. Há que se ter “fala doce”.

            Ou? Queimar? Purgar? Purificar? Calcinar?

            Houve vaso, houve paciência a espera da água. As águas, as emoções verteram com apertos no peito, muita dor e tristeza. As emoções evitadas - raiva e indignação – também vieram sem serem convidadas. Em um vaso paradisíaco, em meio a tanta água a nova operação se apresenta.

            Sincronicamente o estado de alma e o cronograma da formação se encontram. Inicia-se o estudo de Alquimia e na procura da literatura indicada, chega às mãos o livro Anatomia da Psique de Edinger.

            A iniciação a esta nova anatomia, anatomia alquímica, anatomia da Psique envolveu a alma que queimava e trouxe a um novo entendimento. Percebeu-se envolvida pelo fogo de um complexo. Um complexo a secar. Reconhece-se como em um purgatório, e em encontro com a operação alquímica do calcinatio.

            O autor, Edinger descreve o calcinatio como um processo de secagem:

Um importante componente da psicoterapia envolve a secagem dos complexos inconscientes que vivem na água. O fogo ou intensidade emocional necessária para esta operação parece residir no próprio complexo, tornando-se atuante tão logo o paciente tenta tornar o complexo consciente, mediante o compartilhamento com outra pessoa. Todos os pensamentos, ações e lembranças que trazem vergonha, culpa, ansiedade precisam ter plena expressão. O afeto liberado torna-se fogo capaz de secar o complexo e purifica-lo de sua contaminação inconsciente. (EDINGER, 2013, p, 61)

                O vaso analítico esteve a tocar por múltiplos ângulos e imagens complexos que se esquivavam da secagem. Mas eis que é chegado o fogo.         

            Haviam muitas emoções afloradas que pediam pela secagem.

                Edinger (2013, p.61) refere que o ego tem a ideia de que seu “querer” e “fazer jus” devam ser satisfeitos, mas: “A necessária frustração do desejo luxurioso ou concupiscência é a principal característica do estágio da calcinatio”.

            Rever a definição de “concupiscência” retoma ao acreditar que se faça jus ao gozo dos bens terrestres, prazeres sensuais e a ganância, valores que nos tentam diariamente muitas vezes em detrimento ao nosso valor de alma.

            A queima? A queima é das ilusões materiais.

            A calcinatio é a operação da remoção das águas. O calor que transforma o negro em branco, o nigredo em albedo. Nasce um maior entendimento. O encontro com o albedo, um nascer do sol, uma aurora.

            Em processo de análise quando este fogo é evocado tende a gerar reações e frustrações ao paciente. Trata-se de um procedimento arriscado. “Deve haver um fundamento psíquico de solidez suficiente para suportar a calcinatio, bem como uma relação adequada entre o paciente e o terapeuta, para que se possa produzir frustração sem gerar uma negatividade destrutiva.” (EDINGER, 2013, p. 62).

            O aquecimento deve vir do interior do corpo, do próprio calor, de sua própria tendência de auto-calcinatio. O analista trabalhando com o material do próprio paciente e promovendo a frustração de um dado desejo. Frustração esta que só deverá ser feita a partir do momento em que existir nele a tendência interior de desenvolvimento e já contenha a negação desse desejo. Conforme Edinger (2013, p.62) ao analista cabe apenas fornecer um “amigável calor exterior”.

            A alquimia é a arte do fogo. Há que se entender de fogo. A análise cria calor. Hillman (2011, p.191) refere que existe uma resistência às mudanças nas sementes da própria natureza, e que é necessário um calor intenso de forma a retirar o ser da inércia inata. 

            Todo o trabalho com a psique gera movimento, assim também o trabalho da escrita. No princípio há o caldeirão. Entra-se em imersão.  Entre livros, pensares, sonhos, ideias e imagens, ora-se e se reverencia pelos conteúdos que se encontram no vaso. Ingredientes que se misturam. Um ato criativo.

            Cria-se então o labor e também o oratorioum. O trabalho em oração. Apresentam-se e relacionam-se o adepto e soror: Analista, analisando. A relação do visível com o invisível. A prima matéria em caminhada ao segundo branco. Do branco ingênuo ao branco trabalhado. Está acontecendo o trabalho contra naturam, um trabalho que agora é da alma.

            Apresentam-se vozes: A alquimia não é fácil! Solve e Coagula! O obscuro pelo mais escuro! O branco puro e o branco da albedo. O analista como catalizador!

            A fala da alma? A linguagem das crianças! Dos loucos, primitivos e poetas!

                Recebe-se o convite à alquimia.

            O convite à poesia.

            O convite à musicalidade.

            O convite à imagem, a linguagem metafórica.

            A uma vida animada.

            Roga-se por uma atitude cuidadosa, aquela em que se está com um pé no concreto e o outro no abstrato. Conforme Schopenhauer (apud EDINGER, 2013, p.143) tem-se duas vidas: Se em uma vida se está abandonado às agruras da realidade em outra pode haver uma calma deliberação. Ora atuando no palco, ora observador, espectador. “Na plateia, observa calmamente tudo o que acontece, mesmo que seja a preparação de sua própria morte [na peça]; mas, em seguida, vai para o palco, e age e sofre como deve”.

            Um foco aos amargos e sabores da vida e o outro na imagem que concomitantemente se forma. Ver o fogo e a fumaça real, mas também contatar com a fumaça psíquica, uma fumaça sutil. Ver com a retina, mas também olhar com a lente do imaginal. 

            Hillman (2010, p.32) traz que Jung ocupou-se em tentar unificar matéria e alma quando se referia a psicóide, sincronicidade e unus mundus, ele adverte de que há se criar cuidado com a linguagem conceitual e aprender a ampliá-la.  Para ele o efeito terapêutico da alquimia é que ela força a metáfora sobre nós, a alquimia reforça a retificação da linguagem – aquela unilateral.

Em especial, nossa linguagem conceitual separa psique imaterial de matéria sem alma. Nossos conceitos definiram de tal maneira essas palavras que esquecemos que matéria é um conceito “na mente”, uma fantasia psíquica, e que a alma é nossa experiência de vida entre coisas e corpos “dentro do mundo”.  (HILLMAN, 2011, p.32)

                Já com este artigo em andamento recorda-se aos colegas de formação um evento: Caros colegas, eu trago a memória nossa aula de junho em que conversamos sobre sal, prata e pedra frente à fumaça de uma lareira! Ao reabrir o livro, para seguir este artigo, a fumaça estava ali.

            O livro retornou defumado. Ocorreu alquimia? Em que dimensão? Ampliação, transformação? Trata-se apenas de um efeito físico? Ou houve sincronicidade?

            As lágrimas derramadas nos olhos que ardiam. Havia ali algo a mais para queimar além da lenha e nó de pinho?  Havia a presença do sagrado? O livro foi abençoado pela fumaça?

            Imersa neste caldeirão que escreve vem à imagem de Pentecostes em que línguas de fogo pousam sobre a cabeça dos discípulos do mestre, trazendo a luz e os dons do Espírito Santo: Sabedoria, entendimento, ciência, conselho, fortaleza, piedade, e temor de Deus.

            Cabe aludir. Cabe temer. Cabe honrar. Cabe imaginar. Cabe sacralizar o momento. Ver o abstrato neste concreto.

            Retomando a calcinatio: A vida brinda o homem com frustrações e desejos que deverão ser queimados. Há que se retirar a umidade, há uma condição eterna a ser restaurada:

O fogo da calcinatio purga essas identificações e impulsos da raiz ou umidade primordial, deixando o conteúdo em sua condição eterna ou transpessoal, tendo restaurado seu aquecimento natural – isto é, sua energia e seu funcionamento próprios. (EDINGER, 2013, p.63)

                Há uma alma a ser servida, verdade Junguiana brilhantemente explanada pelo analista Gustavo Barcellos quando traz a questão: A quem se serve em uma sessão analítica? Apreende-se: A psicologia Junguiana não serve ao ego ela serve a alma.

            A psicologia profunda aprofunda.

            Frente à advertência com respeito a cuidar-se e priorizar-se a fala não é dirigida a um ego que deseja e sim a uma alma que clama. Acontece a opus contra naturam, onde analista e analisando se unem numa relação sagrada em direção ao coniunctio.

            Coniunctio enquanto união que acontece em dois níveis num inferior em que se pretende a fusão de substâncias que ainda não se encontram completamente separadas ou discriminadas. Esta é sempre seguida pela morte ou mortificatio. A coniunctio superior, por outro lado, é o alvo da opus, a suprema realização. (EDINGER, 2013, p.227)

            Edinger, (2013, p.244) adverte: “Na psicoterapia, requer-se abertura (à psique objetiva) tanto do paciente como do terapeuta”.

            Alquimia?  Conforme Jung (1971, §1704) “O opus alquímico descreve o processo de individuação, mas de forma projetada porque é inconsciente”.

            Tudo começa a partir de um caos, nigredo e escuridão – um estado inconsciente de um conteúdo psíquico. A próxima fase visa à iluminação da escuridão por meio da união dos elementos. Disso surge o albedo, a brancura, a aurora ou à lua cheia. Um corpo puro, purificado pelo fogo, mas que ainda não tem alma. (JUNG, 1971, §1701)

            É a prata, a imagem e a reflexão.

A prata através da qual ouvimos a sonoridade nas palavras implica que elas são universos em si mesmas e não necessitam de referências para serem autenticadas. As palavras ressoam suas próprias profundidades de reflexão – alusões, aliterações, etimologias, trocadilhos, os disfarces da retórica. Essas ressonâncias nas palavras são cantares dos anjos até então sufocados pelas regras de ouro da lógica, das referências objetivas e definições. (HILLMAN, 2011, p.226)

            Alude-se, ouve-se cantares dos anjos, brinca-se com as palavras, retira-se do literal e seguindo o conselho de Hillman (2011, p.228): “Para remodelarmos com graça nossa linguagem psicológica, nossos livros, palestras e horas de análise teríamos que calcinar e lustrar nossos ouvidos”.

 

 

 

II Conclusão

 

                Não havia fogo, havia a impressão, alusão, imagem de fogo e castigo levando ao encontro com purgatório e calcinatio. A luz deste fogo clareou o necessário para que se faça consciência de que o havia um descuido ou um pouco cuidado a si e ao outro.

            Ao deixar-se queimar e enrubescer sabia-se que o momento pedia por uma mudança na atitude. Havia que criar uma nova relação consigo mesmo, agora não mais colorida apenas pelo branco da ingenuidade e encharcada pelas águas da infância. Este momento pediu por uma relação mais íntima e interna consigo mesma capaz de se priorizar. Um movimento em que com coragem se andasse de mãos dadas com os próprios medos deixando queimar antigas águas em busca da prata.

            O fogo queimou, ardeu, mas também iluminou. Trouxe visibilidade ao próprio processo.

            O momento é novo. Uma reverência e gratidão ao trabalho amoroso que se recebeu desde a fecundação até além da meia idade. A mulher esteve em processo, a cada noite e dia novas consciências. A chegada da queima mostrou-se necessário para que o caminho prosseguisse.

            Questionou-se: Como tratar com dignidade esta mulher ainda insipiente? Consumou-se um voto sacramentado. Uma lágrima de compromisso, uma gota que testemunhou um sim ao próprio valor. Um valor adulto, cuidadoso e de autorrespeito.

            Não se esteve sozinha.

            Havia também uma janela, porém ela esteve fechada.

            E a chave? Descuidadamente esteve guardada ou em aguardo.

            Veio o fogo, a queima de desejos pueris e regressivos que embora maximizados pelo aplauso do coletivo cedam em prol do aprofundamento e caminho de alma.

            O mimo de ir a um local paradisíaco, em que se assistiu uma inundação com chuvas seguida por cinzas nos céus, levou a imagem de águas, a queima, ao fogo que seca.

            A dor gerou a entrega, a rendição.

            O processo é circular e continua. Há um novo compromisso. Um pacto que pede por muita atenção.

            Ou mesmo um farol?

            Um farol capaz de dar a luz, iluminar. Este farol esteve metaforicamente se mostrando na leitura da alquimia. Esteve aceso na lembrança e atenção aos sonhos.

             O farol como zelo:

                Que traz à consciência que a negrura é o começo da brancura e que a mortificatio é libertadora: “Explosões de afeto, ressentimento, prazer e exigências de poder podem submeter-se à mortificatio para que a libido emaranhada em formas infantis e primitivas se transforme” (EDINGER, 2013, p.169).

            Que o medo é um instrutor. O Temor ao Senhor é o começo da sabedoria.

            Que a partir da experiência da treva e do vazio, pode acontecer o encontro com o companheiro interior (EDINGER, 2013, p.192).

            Que na medida em que se abraça continuamente a morte, o ego constela a vida em profundidade.

            Que enquanto os opostos estiverem inconscientes, se identifica com um e se projeta o outro e “O espaço para a existência da consciência surge entre os opostos, o que significa que nos tornamos conscientes de ser capazes de conter e de suportar opostos em nosso interior.” (EDINGER, 2013, p.203).

            Um farol que:

            Aponta para a gratidão à existência dos vasos. Dos vasos externos e também dos internos.

            Que há separatio: A separação entre sujeito e objeto. Existem significados concretos e simbólicos. Há que se ter paciência. “Cada área recém-encontrada do inconsciente requer um ato cosmogônico de separatio” (EDINGER, 2013, p.205).

            Que o princípio feminino é o da relação e que o relacionamento coagula. O relacionamento no vaso uterino, infantil, contextual de vida e também analítico. Que coagular é quando o ego assimila.

            Que cabe ao indivíduo a tarefa de criar consciência.

            Que zele dando luz para ver que “o alvo é fazer o indivíduo”. (EDINGER, 2013, p.207).

            Que a cuidadosa atenção ao inconsciente traz um inconsciente amistoso e útil ao ego.

            E que ambos, ego e inconsciente: “Juntos, trabalham no Grande Magistério a fim de criarem mais e mais consciência no universo.” (EDINGER, 2013, p.246).

 

           

 

 

 

 

 

 

 

 

BIBLIOGRAFIA:

 

EDINGER, E.F. Anatomia da Psique. São Paulo: Editora Cultrix, 2013.

HILLMAN, J. Psicologia Alquímica. Petrópolis: Editora Vozes, 2011.

JUNG, C. G. A Vida Simbólica. Petrópolis: Editora Vozes, 1971.

_________ Mysterium Coniunctionis. - Vol. XIV/1  Petrópolis: Vozes, 1997.

WILHELM, R. I Ching O Livro das Mutações. São Paulo: Pensamento, 1997.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

XVII JORNADA REGIONAL DE PSICOLOGIA JUNGUIANA DO IJRS

 
XVII JORNADA REGIONAL DE PSICOLOGIA JUNGUIANA DO IJRS
O IJRS em parceria com o Curso de Psicologia e Mestrado em Educação da Universidade de Santa Cruz do Sul /UNISC, tem o prazer de convidar para a sua
XVII Jornada Regional de Psicologia Junguiana.

Dia: 09/08/2014
Horário: das 08h30m às 17h
Local: av. Independência 2293, bloco 1, sala 101 – UNISC, Santa Cruz do Sul
Público alvo: estudantes e profissionais interessados em Psicologia Junguiana
Entrada Franca

PROGRAMA
8h30m – Inscrições e Abertura

9h – 10h20m - Mesa 1
Coordenadora da mesa: Telma Ripoll Becker
# Mito dos gêmeos Guarani: imagens do Ego-Self
Ana Luisa Teixeira de Menezes
# Doutrina secreta da Alquimia
Ramona Schoerpf
# O corpo dos deuses
Gisela Cardoso

10h20 – 10h40m - Intervalo

10h40m – 12h - Mesa 2
Coordenadora da mesa: Corina Post
# Mito: metáfora vital à existência humana
Laudeci Saldívia
# O ato de fumar como linguagem simbólica
Vanice Klein
# Os quatro elementos, as operações alquímicas e a arteterapia
Heloísa Linhares

12h – 13h20m - Almoço

13h20m – 15h - Mesa 3
Coordenador da mesa: Gelson Luis Roberto
# Assunção de Maria
Susane Maria Curra
# Animus da mulher brasileira
Heloísa Bartholomay
# Sob as cores da Toscana: um processo do feminino
Patrícia Flores de Medeiros
# A graça do Purgatório: quando a operação alquímica – o calcinatio – cria sentido
Maria Denise Leal Vargas

15h – 15h20m - Intervalo

15h20m – 16h40m - Mesa 4
Coordenadora da mesa: Rosa Brizola Felizardo
# A Flauta Mágica – à luz da Psicologia Analítica
Maria da Graça Serpa
# Pertencimento
Rafael Giordano
# A Árvore da Vida como símb olo do processo de individuação
Claise Raddatz
16h40m - Encerramento

O silêncio!

Inicio citando Carpinejar...
 
As qualidades do silêncio e seu poder de torturar e o poder de matar a presença.
Sigo questionando e a dificuldade em ficar em silêncio. Quem está no meu silêncio? 
 

A voz do Silêncio

Com simplicidade:




" Aprende a discernir o real do falso, o fugaz do permanente.
 Aprende, sobretudo, a separar a erudição da cabeça da  Sabedoria da Alma,
a Doutrina do Olho da Doutrina do Coração." A Voz do Silêncio.
 

Sincronicidade? Acasos?


            Já dizia Shakespeare: Há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe nossa vã filosofia.

            Mas com o andar dos anos e com o racionalismo em alta, tendemos a acreditar  apenas no que a ciência pode nos provar. As provas estão chegando para aqueles que precisam delas, mas quem de nós já não passou por alguma experiência estranha, surpreendente, inexplicável? Falamos ou sonhamos e recebemos notícia de algo ou alguém. Relógios que param, ou copos que quebram, barulhos que acontecem como um sino que anuncia.E perder um ônibus, horário, avião, e que depois se comprovou como bênçãos dos céus?

            São as sincronicidades: Dois fenômenos que parecem não ter nada um com o outro, coincidências significativas, sem relação causal.

           Schopenhauer diz: “Quando se chega a uma idade avançada e se evoca a vida, esta parece ter uma ordem e um plano, como se fosse criada por um romancista”.

            Então a gente pode levar a vida com o ego em comando, ou deixar que esta ordem, este plano atue sobre nós.

            O difícil é quando a gente percebe que a coisa não está fluindo está tudo muito pesado, escuro. Sente-se cansando, adoecendo e não percebe esta ordem. A luz se apaga, vem o medo da escuridão, o pânico. 

            Esta ordem este plano para nossas vidas nos aparece diariamente.

            O que acontece é que na maioria das vezes não estamos atentos, já em outras usamos o nosso racional e não acreditamos nestas coisas. Concluímos e pensamos: Devo estar delirando! O que os outros vão pensar de mim!

            É preciso muita coragem para fazer algo que visto pela razão pareça insensato.

            Planeja-se direitinho e não dá certo. Na hora “H” algo complica.

            Nada funciona, não dá certo, ou ainda está tudo tão perfeito... Quem está comandando, serei apenas eu?  

            Zancolli se refere a estes acontecimentos como se alguém estivesse fazendo travessuras com o nosso destino.  Diz ainda, que a divindade criadora dedica-se a organizar as coincidências que nos cabiam para se comunicar com cada um de nós.

            Cazenave, filósofo, diz que um evento sincronístico leva o seu portador a um sentido privilegiado em sua vida.

            Atrás de qualquer situação atípica pode estar uma nova pista para o seu caminho. Então melhor do que irritar-se, observar-se.

             Sempre que se está frente a um dilema pode aparecer um caminho.

            Siga as pistas, sem certeza. Sem esperar pelos resultados.

            Deixe a intuição agir.

            Uma coincidência significativa com uma resposta virá , como se estivéssemos sendo encaminhados para nosso verdadeiro caminho, um reencontro. Um salto quântico!

            Mas? Será?

            Confie! A natureza não perde sua energia.

            Ela não age por acaso, ela tem um propósito e neste caso é a evolução da consciência humana.