A procura é contínua. Buscamos fora. Buscamos na pele, mas com defesas: A epiderme. Até que, nos damos conta: Somos seres distraídos de nós mesmos.
Podemos nos perguntar; O que nos distrai de nós mesmos? O que nos leva a deixar desejos e metas a espera? Eu poderia metaforizar
e chamar minhas próprias distrações de smartfones.
Parece haver uma disputa de forças?
Ora de uma leve tangência, ora com
ângulos retos, ou ainda maiores, a ponto de nos levar da inação até à ação
contrária. Os outros? Enquanto isto o tempo passa e pouco acontece.
Seriam
escolhas preguiçosas? Um complexo
atuante? Ou aquele outro que mora dentro de nós é que estaria ao comando?
Se procurássemos
apenas pelo campo racional, encontraríamos definições. Afinal uma distração
pode ser desde um descuido a um devaneio, alegria, diversão, abstração. Pode se
partir para também para ideias de lapso, cochilo, enfim um
esquecimento. Algo que vai do prazeroso ao preguiçoso. Do descuido cordato ao inconsciente.
O que
me leva a este tema? Superficialmente diria que é porque seguidamente me
percebo dominada por meu smartfone. Este
aparelho que tanto me ajuda, esta agenda que articulo com os olhos e dedos, pode
me levar para além dos que refletidamente preferiria e o mantenho
a carregar seduções. Ele foi me conhecendo, um robô que sabe muito de
mim mesma, e, embora usualmente me ajude, também me distrai, muitas vezes, até
de mim mesma.
Confesso.
Já me esqueci dele e voltei para e buscá-lo. E pensar que em certa ocasião um esposo
de uma parturiente esteve a me procurar e me encontrou sentada na beira de um
rio. Cheguei a tempo e o parto foi normal. Pode parecer apenas saudosismo, mas experiências
passadas sempre serão ferramentas cunhadas.
Hoje. Trabalhando
menos. Mais velha. Meu tempo deixa metas, sonhos e desejos a espreita. Há que desistir de
alguns e fluir a outros.
Parece
faltar tempo, embora o ditado diga que, quanto mais se faz, mais se consegue. Isto nem sempre é verdade. Há que vigiar.
Chega um tempo que o pedido é pela lentidão, e, muitas vezes até certa
obscuridade externa.
A pressa vai descansar e o silêncio impera.
Começam
a faltar fins de semanas, e dias de semana são retirados do trabalho para
alimentar ânsias de alma. Benditas ânsias, que não desistem de nós, nos importunam e acordam.
Desejos e metas vivos. É chegado um novo Imperador e trás com ele um novo ritmo, em sístole
e a diástole. A batida é interna, vem do coração, um ritmo da alma.
O certo agora parece
incerto e ousa-se decepcionar as antigas demandas. Gera-se até a sensação de certa
negligência com alguns acordos.
Desejos
e metas continuam vivos, brotam como que de raízes desconhecidas, ou seriam conteúdos
flores, que viraram frutos e secaram?
E, agora? Criarão novos brotos na terra?
Uma resposta veio do smart falou via whats que dizia: Mas, não nos abandone. E a resposta foi imediata:
Nunca.
Este “nunca”, que veio de dentro mostrou o nascimento da semente. Uma
palavra em “ímpeto irrefletido” que anuncia.
Anuncia
a necessidade do silêncio, da música calma. Do sábado nublado para escrever. Do
tempo para ler e reler, enquanto as retinas ainda estão saudáveis. E sair da comodidade em busca do novo parto. Pequenos movimentos de fidelidade.
Honrar as vozes ouvidas e proferidas que saem também de dentro e que trazem direções.