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Objetiva o autoconhecimento como forma de lidar de modo criativo com nossos problemas.

São eventos capazes de ajudar-nos a encontrar caminhos para nossas vidas.

Médica em Carazinho- RS desde 1984, hoje exerce ginecologia e psicoterapia junguiana.


quarta-feira, 15 de maio de 2013

Um pouco de Jung: Carta a Hesse

Você já leu Demian... Procure ler.

Jung em 03.12.1919 escreve a Hesse, transcreverei na íntegra, como é longo então leia apenas os grifos que coloquei?

Prezado senhor Hesse,
    Devo agradecer-lhe de coração o livro magistral e verdadeiro Demian. É indiscrição e impertinência de minha parte romper o seu pseudônimo, mas quando li o livro tive a impressão de que ele me chegou via Luzerna. Não o reconheci nos esboços de Sinclair no NZZ, mas sempre me perguntei que tipo de pessoa seria esse Sinclair, pois a psicologia dele me parecia bem especial. Seu livro chegou num momento em que estava de novo oprimido pela consciência obscurecida do homem moderno e por sua teimosia sem esperança, como se apresentava o pequeno Knauer a Sinclair. Por isso seu livro exerceu sobre mim o efeito de um farol em noite tempestuosa.
   Como toda vida humana bem vivida, um bom livro deve ter um fim. O seu tem o melhor possível dos fins, onde tudo o que passou tem realmente um fim e onde tudo recomeça, com o qual começou o livro, isto é, com o nascimento e o desenvolvimento do homem novo. A grande Mãe ficou grávida da solidão daquele que procura. Ela deu à luz ( na explosão da granada) o homem velho para a morte e implantou de novo a mônada eterna, o mistério da individualidade. E assim como reaparece o homem renovado, também reaparece  a Mãe - numa mulher sobre esta terra.
   Poderia contar-lhe um pequeno segredo sobre Demian do qual o senhor se tornou testemunha, mas cujo sentido o senhor escondeu do leitor e talvez de si mesmo.Poderia dar-lhe algumas informações satisfatórias sobre isso, pois sou amigo de Demian há muito tempo e ele me iniciou recentemente em seus assuntos particulares - sob o selo de muita discrição. Mas o senhor terá confirmada esta alusão no decorrer dos anos.
   Espero que não pense que estou querendo me tornar interesssante fazendo mistérios; meu amor facti é sagrado demais para fazer isso. Queria apenas, por gratidão, mandar-lhe o pequeno presente de minha grande consideração diante de sua lealdade e veracidade, sem as quais não se pode ter intuições tão pertinentes. Talvez o senhor adivinhe a passagem do seu livro a que me refiro.
   Providenciei imediatamente um exemplar de seu livro para a nossa biblioteca do clube. Ele é saudável em todos os sentidos e conduz ao caminho.
Não leve a mal minha invasão. Ninguém sabe disso.
                                 Com elevada consideração e agradecimento cordial de
                                                                                                             C. G. Jung 

Herman Hesse  e   Jung




 

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