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Objetiva o autoconhecimento como forma de lidar de modo criativo com nossos problemas.

São eventos capazes de ajudar-nos a encontrar caminhos para nossas vidas.

Médica em Carazinho- RS desde 1984, hoje exerce ginecologia e psicoterapia junguiana.


sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Pessoas Sensíveis

Pessoas Sensíveis. Acordei com estas palavras e, enquanto escova os dentes, meu psique divagou. Imediatamente duas ideias: A sensibilidade implica em insensibilidade, são polaridades. Logo a seguir me veio o quanto o ego que julga já poderia estar a passear através da escrita pela valorização do tema louvando aquelas pessoas que são sensíveis, e talvez advetivando como especiais. Bondosas. Ufa! Nunca será fácil, pensar refletido e ainda ampliar, a tendência ainda é ficar raso, pois estando dentro, rodeada de projeções conscientes, semiconscientes, ou ainda, levemente disfarçadas pela busca do aplauso coletivo busca-se talvez pelo inalcançável. Há como ficar isento? Segundo a física quântica, o observador atua, modifica o resultado. Mas, por que não tentar, brincar, caminhar? Ousei. Deem-se ao trabalho de me subtrair. No instante, naquele pedaço de segundo em que ouvi “Pessoas Sensíveis”, me veio a sensibilidade enquanto fragilidade. Fragilidade no mais amplo sentido que qualquer um possa imaginar. Aquela que tenho e você talvez também tenham. Aquela incompreendida, e que, todos tentando te ajudar lhe dedicam críticas construtivas, “para s seu bem”. Momentos em que a gente perde a chance de vislumbrar a faísca da luz da compaixão. Neste mundo de heróis que só podem vencer e em ‘inglês’, como poderei ser eu mesmo? Agora enquanto escrevo e pousa, alimenta, canta e voa, há menos de metro de mim um pequeno pássaro. Pequeno demais, um pequeno adulto que levava inseto a seu pequenino frágil. A partir daí a sensibilidade polarizou da grande bondade, a fragilidade total. Da sensibilidade perceptiva ao outro que pede com o olhar, o toque, ou até mesmo com a palavra não dita, para aquele que vê e dá, e, também aquele que percebe sensivelmente a necessidade alheia, mas não dá, porque não pode dar. Quão sensível ficaríamos frente a uma necessidade pedida numa situação insensibilidade momentânea ou perene? Pode-se passear por um numero estelar de exemplos. Inúmeras vezes estamos frente a uma atividade que não pode parar, por nada. Como fazer duas cesarianas ao mesmo tempo? Cito, mesmo sabendo que não tem obstetra que já não fez dois partos conjuntos, em que priorizou momentos e de um e voltou a outro. Mas como ajudar alguém a ver algo, se ele não enxerga, ouvir se não ouve, ou ainda cuidar de si, sem ter ao menos iniciado as lições do começar por si. E acrescento aqui, muitos já não tem retinas, equilíbrio, rapidez, e não voltaram a ler, ouvir, caminhar sem bengalas e até mesmo correr. Variáveis que independem da idade. É fantástico, ser chamado de sensível. Tem a força (risco) da identificação com os deuses, mas tem medida e necessariamente dever incluir a outra polaridade. Ser sensível de tão frágil. Insensível de tão forte. E como Analista Junguiana acreditar na Função Transcendente. Aquela que abraça os pólos. As palavras podem ser vãs, ou tocar, ressonar, vibrar, mas, o que realmente importará será a atitude momentânea, a experiência ‘in vivo’. A multiplicidade Humana é infinita. Esta beleza colore o planeta, musica os dias, mas também acinzenta e barulha. Quem somos nós? Humanos. Demasiadamente humanos, individuais, diferentes, repletos de saúdes e neuroses... Esta simples reflexão não provem do nada, acordar com os vocábulos “Pessoas Sensíveis” na mente me trás a superfície consciente uma percepção que tenho visto e tem me deixado extasiada. Há uma infinidade de pessoas que a seu modo, seu jeito, tem feito competente e amorosamente sua história de vida repleta de significado e sentido. A evolução Humana está acontecendo. Tenho visto muitas “pessoas” – aqui abraço uma- lindas demais. Devolvo a ela, e aqueles que lerem estas divagações, sem ainda saber a autoria, que pode ser dela mesma, tamanha a sua compreensão de almas: “Tem pessoas tão lindas por dentro que até parece que comem flores...”. Estou ciente de que no meio de tanta diversidade há feiuras, em todos nós, há feiuras contaminantes, mas há beleza. Há sensibilidade para elogiar, há sensibilidade para cuidar. Há luz que cega, há escuridão que não damos conta. Sejamos pessoas sensíveis, na medida. Feliz 2018