Você já leu
Demian... Procure ler.
Jung em 03.12.1919 escreve a Hesse, transcreverei na íntegra, como é longo então leia apenas os grifos que coloquei?
Prezado senhor Hesse,
Devo agradecer-lhe de coração o livro magistral e verdadeiro Demian. É indiscrição e impertinência de minha parte romper o seu pseudônimo, mas quando li o livro tive a impressão de que ele me chegou via Luzerna. Não o reconheci nos esboços de Sinclair no NZZ, mas sempre me perguntei que tipo de pessoa seria esse Sinclair,
pois a psicologia dele me parecia bem especial. Seu livro chegou num momento em que
estava de novo oprimido pela consciência obscurecida do homem moderno e por sua teimosia sem esperança, como se apresentava o pequeno Knauer a Sinclair.
Por isso seu livro exerceu sobre mim o efeito de um farol em noite tempestuosa.
Como toda vida humana bem vivida, um bom livro deve ter um fim. O seu tem o melhor possível dos fins, onde tudo o que passou tem realmente um fim e onde tudo recomeça, com o qual começou o livro, isto é, com o nascimento e o desenvolvimento do homem novo.
A grande Mãe ficou grávida da solidão daquele que procura. Ela deu à luz ( na explosão da granada) o homem velho para a morte e implantou de novo a mônada eterna, o mistério da individualidade. E assim como reaparece o homem renovado, também reaparece a Mãe - numa mulher sobre esta terra.
Poderia contar-lhe um pequeno segredo sobre
Demian do qual o senhor se tornou testemunha, mas cujo sentido o senhor escondeu do leitor e talvez de si mesmo.Poderia dar-lhe algumas informações satisfatórias sobre isso, pois sou amigo de
Demian há muito tempo e ele me iniciou recentemente em seus assuntos particulares - sob o selo de muita discrição. Mas o senhor terá confirmada esta alusão no decorrer dos anos.
Espero que não pense que estou querendo me tornar interesssante fazendo mistérios; meu
amor facti é sagrado demais para fazer isso. Queria apenas, por gratidão, mandar-lhe o pequeno presente de minha grande consideração diante de sua lealdade e veracidade, sem as quais não se pode ter intuições tão pertinentes. Talvez o senhor adivinhe a passagem do seu livro a que me refiro.
Providenciei imediatamente um exemplar de seu livro para a nossa biblioteca do clube.
Ele é saudável em todos os sentidos e conduz ao caminho.
Não leve a mal minha invasão. Ninguém sabe disso.
Com elevada consideração e agradecimento cordial de
C. G. Jung
Herman Hesse e Jung