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Objetiva o autoconhecimento como forma de lidar de modo criativo com nossos problemas.

São eventos capazes de ajudar-nos a encontrar caminhos para nossas vidas.

Médica em Carazinho- RS desde 1984, hoje exerce ginecologia e psicoterapia junguiana.


sábado, 22 de janeiro de 2022

Isolamento e Introspecção

 

 

Isolamento e introspecção

 

Antes que o fugidio pensamento sumisse o segui e anotei.

É chegado o momento interno, quis descrevê-lo, algo mais intenso até mesmo do que o encontro analítico. Aparece o invisível, indizível, uma percepção. Não se conseguiria traduzir apenas com palavras ou gestos, como se algum germe estivesse em aguardo. O tempo solitário. O tempo esquecido.

O segredo como diria Jung.

Procure pelo segredo, aquele que muitas vezes não se expõe nem mesmo na troca terapêutica. Vi e estive frente a espaços sagrados em encontros analíticos tantos meus como de pacientes em terapia.

Não se apresenta pela função consciente, acontece. Quase como uma bolha de ar que aparece sobre uma agua e se liberta .Agora desce em um átimo, o tempo com sua dualidade necessária.

            Aprisionador e libertador. Obviedades que nem mereceriam ser escritas.

Estamos livres dentro de máscaras, um acessório a nosso vestuário, que se ampliado, parece dizer se contenha, frente a algo Maior.

Chega como a lâmina de Zeus, um novo tempo chamado de isolamento, a me condenar a libertação ao germe criativo. Um clarão apontando a existência do propósito.

No rabisco matinal percebi que até mesmo na fala analítica muito vai ao fugidio. A teia é grande e o germe precisa de tempo. Não se trata de resistência, há sim o momento.

Relembro citação anterior “A pressa é do o diabo”.

Agora relativizo ainda mais a dimensão de pressa. O já, pode ser 10 ou 1000 anos...

Fui apresentada ao ócio compulsório, embora com o livro O Ócio Criativo de Domenico De Mais na prateleira.

O criativo não vem do querer ele acontece. Ele impõe restrições.

Reagi. Diversifiquei o fazer. Li muito. Escrevi muito. Arrumei bagunças.. Reencontrei amigos online.

Percebi o bem e o mal no online e lembrei-me do telefone de mesa o quanto era útil e invasivo. Graças a secretárias se conseguiu organizar a vida e trabalhar inteira num parto, cesárea, consulta onde apenas pensamentos interrompiam.

Veio a maravilha do celular e este se especializou da chamada à vídeo chamada e  com elas o livre arbítrio. Escolha o volume, aviso de notificações, e onde deixar o celular. E, agora, cheia de tempo, quando via, estava com o celular na mão. Grata a ele, porém seguidamente distraindo de mim.

Até que dei conta que eu preciso muito de mim. Tenho escolhas e perdas necessárias e que provém de outro espaço.

Tempo. Pressa. Infinito. Há que frequentar do nano segundo a hora ou anos sem predisposição e sem preferências.

Deixa a vida me levar até que eu perceba ela tem seu plano, seu sentido em termos de direção e meta e que só agora me permite pequenos vislumbres.

                                                                                                  Maria Denise