Isolamento e
introspecção
Antes que o fugidio pensamento sumisse o segui e
anotei.
É chegado o momento interno, quis descrevê-lo, algo
mais intenso até mesmo do que o encontro analítico. Aparece o invisível,
indizível, uma percepção. Não se conseguiria traduzir apenas com palavras ou
gestos, como se algum germe estivesse em aguardo. O tempo solitário. O tempo esquecido.
O segredo como diria Jung.
Procure pelo segredo, aquele que muitas vezes não se expõe
nem mesmo na troca terapêutica. Vi e estive frente a espaços sagrados em encontros
analíticos tantos meus como de pacientes em terapia.
Não se apresenta pela função consciente, acontece. Quase
como uma bolha de ar que aparece sobre uma agua e se liberta .Agora desce em um
átimo, o tempo com sua dualidade necessária.
Aprisionador e libertador. Obviedades
que nem mereceriam ser escritas.
Estamos livres dentro de máscaras, um acessório a
nosso vestuário, que se ampliado, parece dizer se contenha, frente a algo Maior.
Chega como a lâmina de Zeus, um novo tempo chamado de isolamento,
a me condenar a libertação ao germe criativo. Um clarão apontando a existência
do propósito.
No rabisco matinal percebi que até mesmo na fala
analítica muito vai ao fugidio. A teia é grande e o germe precisa de tempo. Não
se trata de resistência, há sim o momento.
Relembro citação anterior “A pressa é do o diabo”.
Agora relativizo ainda mais
a dimensão de pressa. O já, pode ser 10 ou 1000 anos...
Fui apresentada ao ócio compulsório,
embora com o livro O Ócio Criativo de
Domenico De Mais na prateleira.
O criativo não vem do querer
ele acontece. Ele impõe restrições.
Reagi. Diversifiquei o fazer.
Li muito. Escrevi muito. Arrumei bagunças.. Reencontrei amigos online.
Percebi o bem e o mal no
online e lembrei-me do telefone de mesa o quanto era útil e invasivo. Graças a
secretárias se conseguiu organizar a vida e trabalhar inteira num parto,
cesárea, consulta onde apenas pensamentos interrompiam.
Veio a maravilha do celular
e este se especializou da chamada à vídeo chamada e com elas o livre arbítrio. Escolha o volume,
aviso de notificações, e onde deixar o celular. E, agora, cheia de tempo,
quando via, estava com o celular na mão. Grata a ele, porém seguidamente
distraindo de mim.
Até que dei conta que eu preciso
muito de mim. Tenho escolhas e perdas necessárias e que provém de outro espaço.
Tempo. Pressa. Infinito. Há que
frequentar do nano segundo a hora ou anos sem predisposição e sem preferências.
Deixa a vida me levar até
que eu perceba ela tem seu plano, seu sentido em termos de direção e meta e que
só agora me permite pequenos vislumbres.
Maria
Denise