Intermezzo:
um espaço criativo entre mãe e filha
A partir da melodia que tocou no imaginário da autora - o intermezzo
A partir da melodia que tocou no imaginário da autora - o intermezzo
da ópera Cavalleria Rusticana - percebeu-se a necessidade de um intervalo. Este intervalo se materializou abraçando a ideia de encontros entre mãe e filha. Conceber este espaço criativo, em que ambas estiveram acompanhadas por xícaras de chá, dobraduras de origami e muitos diálogos, trouxe uma sensação de preenchimento de lacunas e vazios existentes nesta relação tornando-a ainda mais íntima e amorosa.
Algumas trechos e citações:
A
relação mãe e filha nem sempre acontece de forma que a filha se sinta segura,
confortável e acolhida. Cria-se um
espaço em que ficam lacunas, tristezas e até mesmo ressentimentos.
Percebe-se
que algo não ficou fluido, íntimo e confortável para mãe, filha ou ambas. É
possível transformar essa relação? Como? O que, na filha, não está preenchido,
olhado, pensado, sentido, no que se refere à relação mãe e filha?
É
possível criar um espaço criativo? Criá-lo trouxe a possibilidade de ir ao
encontro. Criar de forma intencional um
tempo para simplesmente estar com, decidir,
deliberar, entrar em intermezzo. Nada a fazer, apenas um encontro, um encontro
criativo e reflexivo.
Jung diz...
Se
eu fosse um filósofo daria prosseguimento ao argumento platônico segundo minha
hipótese, dizendo: “em algum lugar celeste” existe uma imagem primordial de
mãe, preexistente e supra ordenada a todo fenômeno do “maternal” (no mais amplo
sentido da palavra). Mas como não sou filósofo e sim um empirista, não posso
permitir a mim mesmo a pressuposição de que o meu temperamento peculiar, isto
é, minha atitude individual no tocante a problemas intelectuais tenha validade
universal (JUNG, 2006, §149, grifo do autor).
Marion Woodman...
A consciência do
feminino surge da mãe, e você tem de se alicerçar nisso porque sem essa base
você seria simplesmente soprado para longe pelo espírito. A consciência
feminina, no meu entender, significa mergulhar nesse enraizamento e reconhecer
quem é você como alma. Tem a ver com amor, com receber – nesta cultura
praticamente todo mundo sente terror de receber. Tem a ver com entregar-se ao
próprio destino, conscientemente - e não às cegas – mas reconhecendo com total
consciência suas forças e limitações. (WOODMAN, 2003, p.43)
e
A maioria das
pessoas não alimenta suas almas, por que não sabem como. A maioria de nós,
nesta cultura, é filha de pais que, como o restante da sociedade, correm o mais
que podem, tentando se segurar financeira e socialmente, e também de várias
outras maneiras. Há uma compulsividade à qual está a criança exposta, mesmo
desde seus tempos de útero. No seu primeiro ano de vida, já é esperado que a
criança tenha desempenhos. Frequentemente, o genitor não é capaz de receber a
alma da criança, seja qual for essa pequenina alma, porque não reserva nenhum
tempo para receber, ou por que não gosta do que a criança é. Muitos pais são
muito preocupados em fazer com que seu filho tenha aulas de dança ou esqui, que
frequente um bom colégio, e seja o primeiro aluno da classe. São tão ansiosos a
respeito de tudo que estão tentando “dar” para a criança que não recebem na
dela. Por exemplo, a criança chega correndo com uma pedra, seus olhos brilhando
de deslumbramento, e diz: “Olhe que coisa maravilhosa eu achei”. E sua mãe
comenta: “Devolva isso à terra que é o lugar dela”. Essa pequena alma logo para
de trazer pedras para mostrar e se dedica ao que lhe é possível fazer para
agradar a Mamãe. O processo de crescer se torna um exercício de adivinhação de
como agradar os outros, em vez de uma expansão por meio de experiências. Não há
crescimento sem sentimentos autênticos. As crianças que não são amadas em seu
próprio ser não sabem como se amar. Quando se tornam adultas, têm de aprender a
alimentar sua criança perdida e ser sua própria mãe.” (WOODMANN, 2003 p.66,
grifo do autor)
Bom, é uma coisa
notável, mas quando uma pessoa consegue atravessar alguma limitação, um
movimento tem início nos outros. Acho que existe algo na linha de um movimento
cultural rumo à ampliação de consciência. Certamente, quando uma pessoa, numa
sala, é mais consciente, ela muda a consciência de todas as pessoas daquele
local. E, numa família, se uma pessoa está trabalhando para se tornar
consciente, todos da casa sofrerão mudanças.”. (WOODMANN, 2003 p.43)
É hora de se sentir em
preenchimento amoroso, na relação com a mãe, uma reverência ao sagrado do
materno.
“No encontro feliz e
amoroso entre mãe e filha, a Terra cobre-se de um verdor novo e abençoado, e
Deméter, num ato de benevolência, consagra-se a ensinar os seus mistérios à
humanidade.” (KOLTUV, 1997, p.35).
O artigo ficará a disposição no site do
INSTITUTO JUNGUIANO DO RIO GRANDE DO SUL.
Se houver interesse em lê-lo posso também encaminhá-lo via e-mail.
Um comentário:
Nossa...Muito legal. Nos faz refletir. Adoro o seu blog.
Bjus
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