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Objetiva o autoconhecimento como forma de lidar de modo criativo com nossos problemas.

São eventos capazes de ajudar-nos a encontrar caminhos para nossas vidas.

Médica em Carazinho- RS desde 1984, hoje exerce ginecologia e psicoterapia junguiana.


sábado, 26 de março de 2016

Permissão ao Ócio


 

Minha mãe está idosa, 89 anos. Vê muito pouco. Todo o dia se pergunta: O que eu ainda posso fazer?  Percebo nela a dificuldade em não fazer. Não vê, não consegue, esquece...

Olho para mim: Já tenho 60 anos. Desde muito jovem fazia. Sempre muito curiosa e instigada estava à procura em desvendar os segredos e labirintos de vida.  Queria entender desde o nascimento, a reações químicas e a morte. O aqui e o além. Havia aquém?

Com o espelho materno a frente, como não pensar nos meus sessenta anos.  Não acredito que é chegada a hora de ter qualidade de vida, no sentido de viajar, comer e consumir...  Tenho qualidade de vida  mesmo aqui escrevendo e pensando.  

A qualidade de vida é muito mais em nível de aceitação ao que é, e usufruir o instante que existe.  Todos têm instantes alegres, significativos todos os dias. Pode ser uma lembrança, um som, um cafezinho, um encontro, um ouvir. Não sei o que havia hoje no horizonte, mas pela janela da cozinha vi... e senti algo de 30 anos atrás, gostoso. Apenas gostoso.

Também estou idosa. Minhas células levam tempo para se reproduzir, minhas mãos começam a afinar como seda, minha pele a manchar, e dobras se multiplicam. Não estou feia, penso que ao contrário, estou acompanhando o meu envelhecer.  A pergunta de mim mãe tem ressonado em mim... O que ainda posso fazer? Mesmo que um pouco mais do que minha mãe, já não é tudo.

Então tenho estado com pessoas, ouvido outras, tocado outras, olhado e beijado. Mas acima de tudo me questionando: Saberei ficar em ócio? Sair das demandas de autovalidação?

 

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