Minha mãe está idosa, 89 anos. Vê muito pouco. Todo o dia se
pergunta: O que eu ainda posso fazer? Percebo
nela a dificuldade em não fazer. Não vê, não consegue, esquece...
Olho para mim: Já tenho 60 anos. Desde muito jovem fazia.
Sempre muito curiosa e instigada estava à procura em desvendar os segredos e
labirintos de vida. Queria entender
desde o nascimento, a reações químicas e a morte. O aqui e o além. Havia aquém?
Com o espelho materno a frente, como não pensar nos meus
sessenta anos. Não acredito que é
chegada a hora de ter qualidade de vida, no sentido de viajar, comer e consumir... Tenho qualidade de vida mesmo aqui escrevendo e pensando.
A qualidade de vida é muito mais em nível de aceitação ao
que é, e usufruir o instante que existe. Todos têm instantes alegres, significativos
todos os dias. Pode ser uma lembrança, um som, um cafezinho, um encontro, um
ouvir. Não sei o que havia hoje no horizonte, mas pela janela da cozinha vi...
e senti algo de 30 anos atrás, gostoso. Apenas gostoso.
Também estou idosa. Minhas células levam tempo para se
reproduzir, minhas mãos começam a afinar como seda, minha pele a manchar, e dobras
se multiplicam. Não estou feia, penso que ao contrário, estou acompanhando o
meu envelhecer. A pergunta de mim mãe
tem ressonado em mim... O que ainda posso fazer? Mesmo que um pouco mais do que
minha mãe, já não é tudo.
Então tenho estado com pessoas, ouvido outras, tocado
outras, olhado e beijado. Mas acima de tudo me questionando: Saberei ficar em
ócio? Sair das demandas de autovalidação?
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