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Objetiva o autoconhecimento como forma de lidar de modo criativo com nossos problemas.

São eventos capazes de ajudar-nos a encontrar caminhos para nossas vidas.

Médica em Carazinho- RS desde 1984, hoje exerce ginecologia e psicoterapia junguiana.


domingo, 29 de julho de 2018

O descompasso e o carinho

O descompasso e o carinho! Há alguns dias fui interceptada. Um descompasso junto a um ato de carinho extremo. Joguei num espelho amoroso, uma amizade. Pois a minha sutil reação foi umedecer os olhos. E, como poderia deixar de perceber este instante em mim? O espelho, a amiga depositária de minhas projeções, talvez inconsciente de importante sua capacidade reflexiva para mim me trouxe o presente, respondeu repleta de interrogações. Como esperado iniciou com uma pequena introdução elogiosa. Uma ideia de um para quê a não ser perdido. Amigos são coisas para se guardar dentro do peito. Vou ampliar. Acho que amigos são gifts cósmicos. Instante a instante criam-se conexões entre objetos e também todas espécies de seres vivos. Tornam-se nossos amigos, misturamos valores um ao outro, valores agregados pela história de encontros, contatos, intersecções. Explico: Depois que cheirei um perfume, senti o sabor de um sorvete de nozes, toquei em uma mão fria, ouvi sua voz, paramos juntos em uma sinaleira, discordamos de um assunto, já somos um, com um pouco um do outro. No momento seguinte sempre somos outro. Acaba de morrer uma célula em ti e talvez nascer outra. O ar que expiro agora, modificado, outro inspirará. Então, meu amigo espelho me disse: Resgate? Vida nova? Conversar antes de partir? Que significativo? Como é bom tomar um café com um amigo? Por que tanta demora? E creiam eu ainda, troquei novamente o nome do neto dela, o menino comemorou seu primeiro ano e se chama Miguel, chamei de Gabriel. Tive que puxar a minha orelha. Tive uma pitada de vergonha. Esta vergonha se refere a minhas distrações, sim, mas também traz a dica. Um sinal. Um verdadeiro caminho. Se puder me distrair de algo como o nome do neto de uma de minhas melhores amigas, certamente estou me distraindo de algo ainda mais importante. Afinal o descompasso teve carinho e até uma sutil lágrima. Sou uma analista e uma Junguiana investiga, então há treino e tentativa em estar atenta e aguçada com a atenção de um detetive. Qual o segredo? Ai que medo. O que está escondido neste tema descompassado? Qual o movimento? Será que a Natureza não vai me poupar desta? Só que, adoro a citação de Jung, em que ele diz que a sua vida foi a de um inconsciente que se realizou. Não chego a esta ousadia, mas deixar passar um descompasso sem tirar a melodia, seria deixar passar ‘sombras’ escondidas, pedindo para serem revisitadas a serem enterradas. Enfim, e agora? Como fazer? Talvez precise das tarefas que Afrodite delegou a Pisque. Passo a passo separar a sementes. Esperar a hora para pegar a lã de ouro, ir a nascente e pegar a água e descer a procura do unguento de Perséfone. Escrevi de mim, mas estou certa que todos passam por descompassos regados a carinho e deixamos passar. Comigo, a “chefia”, a “Natureza” o “Cosmo”, o “Self” me deixaram transparecer em uma humidade um caminho a ser feito com calma, destreza e ajuda dos deuses. Afinal, nada como uma vida vivida.

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