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Objetiva o autoconhecimento como forma de lidar de modo criativo com nossos problemas.

São eventos capazes de ajudar-nos a encontrar caminhos para nossas vidas.

Médica em Carazinho- RS desde 1984, hoje exerce ginecologia e psicoterapia junguiana.


domingo, 18 de novembro de 2018

Redemoinhos pessoais

Ah se eu soubesse! Talvez eu saiba e não saiba que sei. Como desalinhar-me do tempo linear, desordenar o passado, presente e futuro? Como viver aqui sem pensar ali, como fazer a mandala, a roda virar sem querer estar lá, antes daqui? Como não antever o quase visível, sem me atropelar para o ainda não é aqui? Como gestar o tempo com atenção? Como respeitar os ciclos visíveis e também os invisíveis? Como render-me aos invisíveis, que já apontam seus odores e ventos? Acalente a espera. A roda da vida segue a rodar. Como girar com ela? Este círculo que me envolve e envolve a todos, como girar atenta? Volto as ‘setas’ da vida: “O essencial é invisível aos olhos, só de vê bem com o coração” mantra que simbolizou a minha relação de casamento e de vida e que teve como amigo-adversário constante à mente e às retinas. Dizem que o que a gente não vê o coração não sente. Mas: caixas se abrem. Conteúdos novos se apresentam e o coração sente e assente. A roda da vida a rodar e dia a dia com retinas saudáveis ou não, a gente pressente, e sente. Qual o leme? Há leme? Existem tempos, no presente-passado-futuro, existem tempos calmos, tempos tresloucados, tempos serenos e tempos que mais parecem fibrilações. Neste redemoinho de tempo-espaço uma alma pequena, que sente e assente, que sim, ainda existem ‘algos’ a fazer. Novos tempos. Novas emergências. Vivente e encorpada, sim ao ser e sim ao fazer. Então talvez a questão provenha desde que coloque a pressa a sestear, enquanto o como venha a ser respondido a seu tempo espaço através de sensações, falas e coceiras, apertos e plenitudes, sensações e intuições percebidas em nosso corpo. Nesta noite sonhei muito, meu inconsciente misturou muito anos e pessoas. Rejuvenesceu algumas em cinquenta anos, confrontou temas atuais com antigos, trouxe estradas, travessias e até pontes. Foi tão mais além da conta, que me colocou nesta escrita. É preciso baixar a poeira. Por quem os sinos dobram? Dobram por ti. Para quem saem às palavras? Saem parar ti. Inquietava-me conviver com meu pai e seu Alzheimer, perguntava-me por sua alma? Entristece-me conviver com minha mãe sem suas retinas e visão externa, respondi agora a mim mesma que é dela e não penetrarei em sua visão interna. Ali há sacralidade. Caminhando e pensando, sobre o passado, no presente, dei-me conta de que não conheci o sentir de meu companheiro pai, caçamos perdiz, pescamos em rio e mar, colhemos trigo, conversamos sobre esta e outras vidas, e, hoje no presente percebo que mesmo com grande intimidade, não o conheci tanto quanto imaginava e isto não me surpreende isto me indica uma ‘seta’ que aponta para seguir atenta a meu autoconhecimento, do ser e fazer. Então, há que familiarizar-me com muitos espaços interiores ainda desconhecidos. E que já me foram apresentados, via o recolhimento da mente em meu pai, e das retinas em minha mãe. Ainda aqui. Com estas duas ferramentas dentre tantas. Usando a escrita para mim e talvez, alguma palavra para um ‘sesteado amigo’ eu frequente com mais serenidade, espie lentamente alguns cantos intocados e que aconteçam teia para fazer redes internas hora no espaço tempo linear, hora no sincrônico. Agora aquieto. E que deixe rastros. Afinal, haverão passagens, transições, e que sejam no amor e com apreciação. Ah... como tenho que aprender a apreciar.

Um comentário:

Andrea disse...

Que lindo texto, Denise! Comovente relato! Bem isso, como temos que aprender a apreciar... Bjos