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Objetiva o autoconhecimento como forma de lidar de modo criativo com nossos problemas.

São eventos capazes de ajudar-nos a encontrar caminhos para nossas vidas.

Médica em Carazinho- RS desde 1984, hoje exerce ginecologia e psicoterapia junguiana.


sexta-feira, 31 de julho de 2020

SENTIDO DE VIDA E O MITO PESSOAL

Uma vida com sentido. Uma vida com finalidade ou uma direção. Encontrei este sentido em minha vida? Esta resposta só poderá ser respondida por si mesmo. Este se movimenta. A cada passo poderá surgir novo sentido ou objetivo, ainda nublado ou já claro. Parece-me que objetivo seria a seta que nos move através de um fio condutor muitas vezes desconhecido que é o sentido para cada um. À medida que fui andando, fui percebendo a individualidade de cada um. Modelados pela história familiar, expectativas projetadas, o espírito da época, passamos muito tempo de nossas vidas ofuscados para o essencial. Embora pareça estarmos despertos passamos distraídos de nós mesmos, seguindo alguns caminhos não escolhidos de forma consciente. Ao olhar para trás no tempo percebe-se com gratidão a algo, que nos levou a ser e fazer esta vida. Acorda-se para as sincronicidades que levaram a dar valor a nossa história e vida. Aos poucos vamos deixando para trás conteúdos, experiências, conhecimentos, alguns com tanto esforço conquistados. Serão necessários novamente? Estarão acrescidos em mim. Petrificarão, será uma abelha seca no meu mel? Marcas apenas para o acaso? Sei que não. Aquele caminho de jovem, aquela descida com pedrinhas que precisei da mão da avó, enquanto ela repetia que devia ter cuidado nas descidas. Seria apenas um cuidado para aquela idade ou um aprendizado para a vida? Uso corrimões. Uso mãos. Usarei bengala. E na derradeira descida talvez já tenha aprendido, ou ainda, deseje um condutor. O estudo de línguas, teoria e solfejo musical, um pouco de piano, subir em árvores, fazer crochê, pão, bater manteiga, plantar folhagens, pequenas costuras, olhar em microscópios, dissecar, operar, parir e ser parida? Ir a festas? Seriam aprendizados caminho? A palavra sentido para mim vem junto com propósito, essência e direção. Tenho dentro de mim muito forte que minha vida foi o presente ao qual não me cabe desperdiçar. Há um fazer colado ao ser. Um ser que faz. Um ser-fazendo. Então entro no sentido enquanto direção. Um eterno movimento. Um movimento consciente e responsável. Mesmo que me movendo para outras paisagens externas a essência, o eu interno vai junto. Enquanto houver corpo, eu sinto esta essência no peito. Ora aperta em outros fica leve e alegre. Refleti. Observando vida e pessoas, eu percebi que, mesmo tendo referências desde a mais tenra idade existe o meu modelo. Muitos são os caminhos e cada um o trilhará a seu modo. Cada vez mais percebo no Espírito da Época, o florescer na busca de sentido. Livres para se individuar. Um alinhamento com o que se é. Não cabe imitar, há que se validar. O valor em si. A difícil arte de se fidelizar, esquivar das distrações, guloseimas da vida, segurando com as mãos do equilíbrio. Dificuldades e alegria. Apesar de tantas interferências com sintonia podemos ouvir a nossa sinfonia aquela que nos guia a Mito Pessoal.

2 comentários:

Andrea disse...

Denise,
Vida em movimento. Texto em movimento. Percebo, no teu, a elaboração em andamento, se adensando, um dança entre o simbólico e o humano, o pessoal, o transpessoal. Estás a “linkar” o imaginário coletivo com as tuas vivências, entretecendo-os. E nós, leitores, compreendemos tuas imagens e simbologias, pois as experiências e questionamentos são correlatos. Sinto que escreves dando mais liberdade à tua sabedoria. Talvez tua escrita esteja também mais almada, pois mais plena de ti! (se este texto tivesse som, seriam palmas!)

Quanto ao sentido da vida... ah, esta pergunta que ronda e ronda... É por aqui? É por ali? Será que me perdi? Será que me encontrei? Será que...? Movimentos sem-fim e ideias a mil, solicitando espaço para pensar e debater, expressar e sentir...
Lendo Joan Garriga (Vivir en el Alma), vi algo parecido com teu “minha vida foi o presente ao qual não me cabe desperdiçar”. Nas palavras dele, “(...) ?cual és el efecto de honrar a los padres? Que nos comprometemos com la mejor vida posible, com la mayor felicidade y realización, que quedamos obligados a darle a la vida y los demás aquello que tenemos para dar, a hacer lo que tenemos para hacer, y a recibir lo que la vida tiene para darnos.”
Abraço,
Andrea

M. Denise Vargas disse...

Querida Andrea

Sim, muito do que escreves se trata de meu movimento. Munha vida tem sido de envolve-desenvolver, e neste momento estou com muitos movimentos e infante em alguns. Aprendendo a voar, ou velocitar.
Há a sensação de soltar a âncora. Há a permissão de alinhar-se com velocidade e luz.
Aplausos ao comentário.