Paginas


Objetiva o autoconhecimento como forma de lidar de modo criativo com nossos problemas.

São eventos capazes de ajudar-nos a encontrar caminhos para nossas vidas.

Médica em Carazinho- RS desde 1984, hoje exerce ginecologia e psicoterapia junguiana.


domingo, 4 de junho de 2017

10% de Desconto


Houve um tempo de cortesia.  Não se pedia desconto. Afinal o mercador, fornecedor de seu serviço pedia pelo valor que julgava bom pelo seu serviço. Até se podia perguntar ao lado, ou fazer pesquisa, e, algumas vezes se recebia a gentileza de um desconto.

Tempos mudaram. Tornou-se comum, frequente, indelicado ou não, algo trivial e até esperado. Em termos de números também, um centavo foi tirado das etiquetas. Hoje tanto para o vendedor quanto para o comprador acrescentou-se mais sílabas e palavras, levando um a soletrar e o outro a pensar. Um engano ao cérebro?

Mas, o que quero é criar uma questão: O que deste comportamento de que mesmo cobrando um valor para qualquer serviço prestado, esteja institucionalizado o pedido do desconto? Não se trata mais do preço justo? Não se espera que o que me oferecem e ofereço tenha este valor?

Outro comportamento cada vez mais frequente é a ideia de que a todos os compromissos seja destinado um pouco menos de nossa dedicação.  10% menos. Sou contratado para 100, faço 90%? A dedicação está com desconto. A gentileza está com desconto. Um up que pode ser deixado para a próxima. Dar um pouquinho menos da medida, e, acredito mesmo, que muitos nem percebam.

Resultado de imagem para MÃOS DADAS

Acredito que precisamos de conexões, em que um só largue da mão do outro quando o outro já pegou, apreendeu. Acredito que se cada um der um pouco mais fica mais fácil para todos.  


Usando a imagem de duas fitas a serem coladas penso que caso se deixe um espaço –um vão – entre elas (a menos que elásticas), talvez não colem. Um pequeno toque, cruzamento fará toda a diferença.

Pode-se varrer só até a porta. Passar plantão antes do outro plantonista, cuidador, funcionários, responsável, chegar.  Ver algo caído e deixar para o outro levantar.

O capricho do sapateiro ao limpar o sapato, quando sua função era apenas arrumar o salto, ou ainda alguém que vai a consulta de análise e recebe orientação para a febre. Ver algo que não está funcionando e avisar, ou ainda, se simples resolver. Apagar uma luz desnecessária.  

Onde ficou este olhar para além? A mão que se estende um pouco mais? Além  da reponsabilidade ou trabalhista? Também está com 10% de desconto?

Já me referi muitas vezes este comportamento de forma pejorativa, como mãos curtas.  Mas, afora os pejorativos, foco aqui para a questão de onde veio esta ideia de que somos explorados?  E onde fica o fraterno? A troca? A gentileza? O desconto oferecido sob a forma de um olhar atento a necessidade alheia e coletiva?

Persistem e agradeço muitas pessoas que partilham seus 100% humano e até um pouquinho mais.  Neste final de semana convivi com muitos.

 

Nenhum comentário: