Houve um tempo de cortesia. Não se pedia desconto. Afinal o mercador,
fornecedor de seu serviço pedia pelo valor que julgava bom pelo seu serviço. Até
se podia perguntar ao lado, ou fazer pesquisa, e, algumas vezes se recebia a
gentileza de um desconto.
Tempos mudaram. Tornou-se comum, frequente, indelicado ou
não, algo trivial e até esperado. Em termos de números também, um centavo foi
tirado das etiquetas. Hoje tanto para o vendedor quanto para o comprador acrescentou-se
mais sílabas e palavras, levando um a soletrar e o outro a pensar. Um engano ao
cérebro?
Mas, o que quero é criar uma questão: O que deste comportamento de que mesmo
cobrando um valor para qualquer serviço prestado, esteja institucionalizado o
pedido do desconto? Não se trata mais do preço justo? Não se espera que o que me
oferecem e ofereço tenha este valor?
Outro comportamento cada vez mais frequente é a ideia de
que a todos os compromissos seja destinado um pouco menos de nossa dedicação. 10% menos. Sou contratado para 100, faço 90%? A
dedicação está com desconto. A gentileza está com desconto. Um up que pode ser deixado para a próxima.
Dar um pouquinho menos da medida, e, acredito mesmo, que muitos nem percebam.
Acredito que precisamos de conexões, em que um só largue da mão do outro quando o outro já pegou, apreendeu. Acredito que se cada um der um pouco mais fica mais fácil para todos.
Usando a imagem de duas fitas a serem coladas penso que
caso se deixe um espaço –um vão – entre elas (a menos que elásticas), talvez
não colem. Um pequeno toque, cruzamento fará toda a diferença.
Pode-se varrer só até a porta. Passar plantão antes do
outro plantonista, cuidador, funcionários, responsável, chegar. Ver algo caído e deixar para o outro levantar.
O capricho do sapateiro ao limpar o sapato, quando sua
função era apenas arrumar o salto, ou ainda alguém que vai a consulta de
análise e recebe orientação para a febre. Ver algo que não está funcionando e
avisar, ou ainda, se simples resolver. Apagar uma luz desnecessária.
Onde ficou este olhar para além? A mão que se estende um
pouco mais? Além da reponsabilidade ou
trabalhista? Também está com 10% de desconto?
Já me referi muitas vezes este comportamento de forma
pejorativa, como mãos curtas. Mas, afora
os pejorativos, foco aqui para a questão de onde veio esta ideia de que somos
explorados? E onde fica o fraterno? A
troca? A gentileza? O desconto oferecido sob a forma de um olhar atento a necessidade
alheia e coletiva?
Persistem e agradeço muitas pessoas que partilham seus
100% humano e até um pouquinho mais.
Neste final de semana convivi com muitos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário